Dedo podre – a química esquemática que nos leva para o universo da “desgraçolandia”

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Amar e ser amado(a) são condições que ultrapassam uma explicação da ciência. Todos nós, como seres humanos somos programados biologicamente para andarmos em pares e socialmente para “acharmos a outra metade da laranja”. Diante dessa necessidade tão primitiva você já deve ter ouvido a expressão “dedo podre” não é mesmo? 

Mas o que ou estaria por trás dessa expressão?

Em algum momento, você já deve ter se perguntado o motivo pelo qual se comporta de determinada maneira ou porque suas emoções surgem tão intensamente em determinadas situações. Se você já se deu conta que algumas dificuldades ficam evidentes em seus relacionamentos, é bastante provável que já teve a curiosidade para entender a razão pela qual seus relacionamentos se tornam uma repetição constante. A resposta para essas indagações funciona como uma viagem no tempo. O seu modelo interno de como amar começou a ser moldado antes mesmo de seu nascimento e elaborado mais ricamente no decorrer da sua vida, de modo que você muito provavelmente nem se deu conta.

A terapia do esquema, entende o quanto as experiências precoces da nossa história influenciam a forma como enxergamos o mundo, ela trabalha com a ideia de padronização de comportamento amorosos chamando-os de química esquemática.  A química esquemática ocorre quando nossos esquemas construídos na infância são ativados, sem restarem grandes opções a não ser se apaixonar. E por mais contraditório que isso pareça dos livros de romance, “borboletas no estomago” não são nada saudáveis ou conscientes. 

Quanto menos consciência, autoconhecimento e autorresponsabilidade, mais tendenciosos seremos a buscar coerência por meio da repetição de padrões, muitos desses padrões podem nos levar para um local que perpetuará nosso sofrimento, invalidando nossas necessidades e nosso adulto saudável. 

Mas onde tudo começa? 

O ambiente em que crescemos e as nossas primeiras relações podem nos revelar muita coisa, através delas começamos a acomodar as informações, pensamentos, regras e crenças. Esta estruturação cognitiva e emocional tem início nos primeiros segundos de vida e se estende por todos os momentos que seguiremos nessa jornada. 

De forma primaria guardamos apenas as memórias sensoriais físicas e emocionais, não conseguindo armazenar imagens, nem qualquer informação que exija recursos cognitivos muito sofisticados. Com o passar do tempo, com o amadurecimento cerebral e físico, comportamentos mais elaborados são apreendidos. Além disso, gradualmente as nossas experiências passam a ser codificadas e armazenadas com mais recursos cerebrais. O mundo externo e as experiências vividas passam, então, a existir dentro de nós, com cada vez mais requinte no processo de aquisição de informações. A partir de experiências repetidas, nosso cérebro constrói modelos mentais e utiliza a sua capacidade de generalizar o conhecimento armazenado para futuras experiências. Vamos chamar todas essas experiências internalizadas de “cheirinho de casa”.

Vamos a um exemplo para você entender melhor: Maria sempre se sentiu solitária e carente de atenção em seu núcleo familiar. Todos os cuidados da casa eram voltados para sua irmã mais nova que tinha problemas cardíacos. Maria, acabou enxergando o mundo de uma forma muito privada emocionalmente, ela entendia que suas necessidades não eram tão importantes e que jamais receberia o amor que gostaria.  Ao se tornar adulta acabava sempre se envolvendo com homens negligentes, egoístas e incapazes de suprir suas necessidades emocionais. Maria não entendia o motivo de sempre se relacionar com parceiros assim, ao se deparar com homens generosos, prestativos e que supriam suas necessidades, ela rapidamente se desaminava e tudo se tornava um tédio. Era como se esses homens mais prestativos e generosos dessem a ela uma “banana azul”, algo estranho e que lhe causava desconforto. A verdade é que seu esquema de privação emocional era ativado nas suas escolhas amorosas, produzindo grande excitação química, levando Maria para o lugar conhecido, o “cheirinho de casa”, repetindo fortemente a mesma sensação vivida na infância. 

A química esquemática funciona dessa forma, como um encaixe perfeito. Alguém narcisista se envolve com alguém quem tenha esquema de autosacrifício capaz de tolerar suas demandas disfuncionais. Outro alguém com esquema de defectividade pode se encantar por alguém crítico e rígido que ativará suas sensações inadequadas de base. Alguém com esquema de abandono acaba perpetuando sua dor se envolvendo com pessoas instáveis ou indisponíveis. 

Mas como sair dessa circuitaria disfuncional dentro dos relacionamentos amorosos? Entrar em um processo de autoconhecimento é o primeiro passo, através dele você terá mais consciência da sua lente e seus esquemas. Ao ganhar consciência você poderá enriquecer seu repertorio saudável, encontrar relações que te supram emocionalmente ao invés de perpetuar suas dores esquemáticas. 

Então lembre-se, não existe “dedo podre”, apenas escolhemos relações de forma irracional e que nos levam para o “cheirinho de casa”, para o conhecido, a dor inicial esquemática. A terapia do esquema é “padrão ouro” caso você se identifique repetindo escolhas padronizadas e disfuncionais em suas relações.

Meu desejo é que você possa se olhar com mais autocompaixão e atender as suas necessidades de forma intencional, leve e autêntica.

Com carinho,

Mai

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