Resgatando a nobreza humana

O planeta Terra desde o seu primórdio desenvolve um contínuo processo de evolução. De uma explosão de energia até os ciclos geológicos que esculpiram os ecossistemas, tudo sempre ocorreu no limite da harmonia entre as forças da natureza e o equilíbrio do planeta.

O ser humano sempre esteve presente neste processo de evolução do planeta. Sua forma e condição também foram evoluindo, como um embrião nas entranhas da Terra, até chegar ao estágio atual, capaz de manifestar raciocínio e maturidade. Ao longo de todo este processo de aperfeiçoamento, o ser humano deteve todos os atributos que o tornam um ser nobre, sendo hoje um ser pleno e capaz de zelar pelo mundo que o cerca e o mantem.

Na dita civilização moderna, sob forte influência da perversidade de um modo de vida que valoriza o poder econômico e incentiva o consumismo, o homem tem extraído à exaustão os recursos naturais e destruído todas as formas de vida. Bitolada, boa parte da humanidade parece desconsiderar o sistema regulatório do planeta, que reage, potencializando seus ajustes, cada vez mais imprevisíveis e imensuráveis. Será impossível resgatar a nobreza que reside em cada ser humano para contornar este aparente caminho sem volta em que o planeta se encontra?

Acreditamos que seja possível. Existem experiências no Brasil e no mundo que demonstram que existem  grupos humanos despertos, libertos das amarras das forças hegemônicas que rebaixam o potencial humano. Grupos de permacultura, de agroecologia e de economia solidária colocam em prática a ideia de que cada um de nós ingressa no mundo sob a guarda do todo e que, por sua vez, possui como legado um certo grau de responsabilidade para com o bem-estar da coletividade. Estabelecem relações humanas baseadas na cooperação e na confiança e colocam seus talentos e esforços à serviço do bem-estar coletivo. Descartaram os atuais hábitos daninhos de consumo e acúmulo de bens por atos diários em prol do meio ambiente, baseados no consumo consciente e moderado.

É passada a hora dos cidadãos entenderem o que é sustentabilidade. As ideias primárias de que plantar árvores e reciclar são suficientes é o grande equívoco a ser corrigido com políticas públicas de educação ambiental, leis severas e fiscalização eficiente, principalmente por parte da população, detentora de duas ferramentas magistrais, o voto e o poder de consumo. A humanidade está entrando em sua maturidade, sendo assim capaz de compreender a complexidade do ecossistema Terra e reconhecer a responsabilidade que recai sobre seus ombros de zelar por ele. O poder do intelecto humano nos confere o dever de respeitar a capacidade de regeneração dos sistemas naturais e assegurar que as gerações futuras, também, destes possam usufruir.

No dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado em 5 de junho, não tão somente plantemos árvores e reciclemos garrafas. Repensemos nosso modo de vida e redirecionemos nosso poder intelectual para exercermos nosso direito e dever de participar na construção de uma sociedade na qual modelos econômicos voltados para a prosperidade coletiva estejam em equilíbrio com a manutenção da biodiversidade dos ecossistemas e reflitam relações humanas baseadas na confiança. A espécie humana se destaca por sua percepção intelectual, e, no topo da hierarquia tem a obrigação de levar adiante uma civilização em constante evolução. A manutenção da diversidade dos ecossistemas e o respeito a sua capacidade de resiliência devem ser consideradas para sustentar tão nobre propósito.

Por Fernando J.P. Neme & Daniella Hiche *

* Fernando J.P. Neme é permacultor e coordenador da Pra Melhor Ambiental & Daniella Hiche integra o Comitê de Diversidade Religiosa da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, ambos membros da Comunidade Bahá’í do Brasil.

 

 

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