Setembro Amarelo: relato de depressão pelos olhos de quem enfrenta a doença

Eu, Clécia Carvalho (32), fui diagnosticada em 2015 com CID F33.2 (Transtorno Depressivo Recorrente). Tenho administrado com ajuda de profissionais da área de saúde mental, apoio familiar, prática regular de atividade física e uso de psicotrópico, uma verdadeira odisséia. Atualmente moro em Vinhedo – SP com meus pais e irmãos. Vivo apenas um dia de cada vez, e quando fica insuportável viver, lembro: amanhã será um novo dia, e tudo será diferente.

Por diversas vezes, externei pensamentos e emoções através de textos. Estes são usados posteriormente em sessão de terapia. Deixo um pequeno trecho abaixo:

Escrito em 22/06/16.

“Minha meta atual é sair definitivamente da depressão, aprender a lidar com meus sentimentos e emoções. Pois, hoje vejo com mais clareza o quanto estive afundada neste universo perverso… Não dá para mensurar as noites sem dormir, os dias de sol em que fiquei trancada no quarto, das muitas vezes que evitei o espelho por ter a fisionomia triste… Teve um momento em que liguei para minha mãe e falei que não sabia até onde ia agüentar, e poderia acabar com tudo isto pulando do 6º andar do apartamento onde morava”.

Na depressão ocorre comprometimento dos neurotransmissores, pequenas moléculas responsáveis pela comunicação das células do sistema nervoso e pela liberação de substâncias químicas, tais como, serotonina, dopamina e noradrenalina importantes em funções no organismo humano, das quais envolve a regulação do humor, ciclo do sono, apetite, sensação de prazer, ansiedade, entre outros.

A DEPRESSÃO é um transtorno neuropsíquico, patologia mental ou simplesmente a doença da alma. Estar de luto, por exemplo, não significa que a pessoa esteja com essa patologia tão incompreensível e devastadora. Estar em estado deprimido é perder a vitalidade, o sabor pela vida.

É insano falar a um portador de câncer (Isso é coisa da sua cabeça, abandona a quimioterapia e vamos tomar uma cerveja, você precisa se animar). No entanto, quando se trata de depressão as pessoas se acham no direito de falar qualquer coisa, e ao mesmo tempo, apontar o quanto você está agressiva, apática, disfuncional. Existe um tabu muito grande acerca de doenças mentais, porém não podemos ignora-la mesmo tendo sintomas silenciosos e ser percebido de  forma subjetiva por cada pessoa. A depressão é real, e mata muita gente em torno do mundo.

Falar sobre o assunto é fundamental para desmistificar o assunto, bem como para incentivar as pessoas a buscarem ajuda profissional.

Entender que a depressão é como qualquer outro doença crônica e deve ser acompanhada por equipe multidisciplinar. O apoio da família e amigos tem papel fundamental no tratamento.