Da pandemia à terapia

Foto: Conscious Design - Unsplash

Há pouco menos de um ano atrás, fomos surpreendidos com uma pandemia mundial em detrimento do COVID-19.

O que não poderíamos imaginar era por quanto tempo íamos passar por essa situação..

Dia após dia, fomos nos deparando com inúmeros desafios, dentre eles, deixar o nosso controle de lado – próprio de uma sociedade que sofre com cobranças – para sobrevivermos aquém da ansiedade.

Foi então que poucos meses depois, o CRP – Conselho Regional de Psicologia – se pronunciou quanto à possibilidade do atendimento on-line em diversas modalidades e plataformas, tudo para ajudarmos a agregar com escuta qualificada e acolhimento na vida das pessoas em um momento turbulento como esse.

A propagação da Psicoterapia foi enorme, e a partir de então podemos dizer que se iniciou a chegada de uma nova era, onde não havia mais preconceitos quanto ao público que frequentaria a terapia, mas a relevância desse serviço para a Saúde Mental de toda uma sociedade que sofria com incertezas.

E quando falo em sociedade posso dissociar nas fases do desenvolvimento os inúmeros prejuízos tidos a todos os públicos, a começar pela criança.

A procura dos pais e/ou responsáveis para psicoterapia para esse grupo foi imensa.

Existe uma falsa crença de que só se deve buscar a terapia quando se tem um problema.

Diante disso, a comparo com um dentista.. Você só vai a uma consulta quando se deve fazer um canal ou extrair um dente podre?! Na maioria das vezes essa resposta é não!

Iremos ao dentista fazer limpeza, ver se está tudo ok, e até mesmo fazer consertos, o mesmo deve acontecer com as outras áreas da sua vida.

Nós SEMPRE teremos algo a nos incomodar simplesmente porquê não somos perfeitos. Sempre teremos dificuldades em lidar com certas situações. E por quê não prevenir do quê tentar cuidar do problema já instalado?! Podemos inclusive usufruir desse serviço no sentido do treinamento de habilidades que gostaríamos de desenvolver..

Você sabia que quando não resolvemos algo em nossa mente, o nosso corpo acaba nos mostrando que precisamos de cuidados especiais?! A isso, damos o nome de “somatização”. Acontece quando o nosso corpo clama por ajuda. Acabamos adoecendo muitas vezes para deixarmos de lado comportamentos padrões que tendem a nos prejudicar.

O que me deixa preocupada nisso tudo é em como essas crianças estão chegando até o consultório, sendo muitas delas com falas agressivas consigo mesmas.

– “Eu não queria ser essa menina que eu sou..” (sic). – disse minha irmã de 4 anos de idade.

– “Minha cabecinha pensa em coisas más, mas eu sei que isso é errado..” (sic) – disse uma cliente de 5 anos.

– “Seria mais fácil se eu me jogasse da beliche e batesse com a cabeça no chão para não passar mais por nada disso..” (sic) – disse um cliente de 7 anos.

Crianças apresentando inúmeros prejuízos em seu desenvolvimento, simplesmente porque a lei da vida foi interrompida. Sua fase de socialização!

Pais me procurando com medo do “atraso” de seus filhos e inconscientemente colocando-os mais reféns de uma sociedade que cobra.

A notícia boa nisso tudo é saber que quando estes procuram a terapia para seus filhos, são também trabalhados.

Sim, muitas vezes um responsável chega com uma demanda em seu filho que na verdade ele quem desenvolveu em primeira ordem. Seu filho, sobrinho, neto, afilhado, sente tudo!

A criança aprende por observação, muito mais do que pelaescuta, e é por isso que temos que nos policiar sobre determinados comportamentos tidos na frente destas.

Adolescentes que no começo da Pandemia até que acharam bom ficar em casa e por muitas vezes se sentir menos cobrados por fazer seus próprios horários tendoposteriormente se angustiado com o tempo em que passaram sem encontrar aqueles com quem podiam conversar.

Sim, a maioria dos adolescentes apenas se identificam com pessoas de sua faixa etária por seus conflitos internos que por muitas vezes seus pais por mais que tenham passado por essa fase, não conseguem entender e guiar.

O resultado disso é uma terapia feita por mensagem de texto já que possuem medo/insegurança e até mesmo timidez que seus pais escutem algo que falam conosco e desvalidem seu processo.

Adultos cheios de responsabilidades que se viram sem emprego, ou com emprego e bastante vulnerabilidade, ou trabalhando e tendo que dar conta de toda uma família atarefada que agora estaria presente, ou simplesmente com dificuldade de manter esse contato de convivência que antes era tão longe pelas demandas do dia-a-dia.

Idosos sem sair de casa. Sem entender o que estava acontecendo. Proibidos de receber suas famílias para a reunião de domingo. Vetados de abraçar. Sozinhos. Angustiados, e se perguntando o porquê disso tudo.

É.. uma infinidade de sentimentos, pensamentos, comportamentos distintos, mas todos com um só motivo!

Perdas, despedidas, foi nos tirado o direito de encerrar o nosso contato com pessoas queridas.. no meio disso, ganhos, aprendizados, crescimento, abertura e empatia pela dor do outro, e pela nossa própria dor que por muitas vezes escondemos e não permitimos mostrar!

Acredito que a terapia on-line chegou para ficar.

Podemos nos conectar com pessoas de outro lado do mundo dessa forma, ajudar inclusive a Brasileiros que tinham dificuldade em encontrar atendimento em sua língua e alguém que vivesse a sua cultura.

Aprendemos o verdadeiro significado das redes.

Demos mais importância a quem estava perto.

A incansável correria, nos deu lugar a reflexão.

Nos conectamos, sem contato.

Aproximamos o que estava longe.

E sem dúvida, evoluímos!

2 Comments

  • Uma maravilhosa reflexão feita por Letíçia Jácome tendo como texto da Pandemia a Terapia.
    Abrange todo o contexto desde a idade infantil a terceira ou melhor idade.
    Parabéns.

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