Por que ouvir música clássica

Foto: Daniel Spase - Unsplash

Em tempos de crise o cultivo de coisas belas se fazem necessário. Tais coisas não podem de fato mudar a realidade objetiva coletiva, mas tem o poder de alterar algo em nós para que possamos lidar melhor com o que acontece à nossa volta. Longe de ser uma espécie de negação da realidade, o cultivo daquilo que é belo nos confere alguma saúde mental, toca nossos corações e inspira  sabedoria, tão essencial para qualquer coisa na vida.

Dentre hábitos como meditar, ser alongar, beber água e praticar o recolhimento, ouvir música também pode ser terapêutico. E ouvi-la em momentos de desconexão com as redes sociais e outras tarefas que nos condicionam à distração,  pode ser ainda mais eficaz.

A música gera uma conversa entre áreas do cérebro. Enquanto ouvimos uma música, os tímpanos entram e saem, gerando uma série de sinais eletroquímicos que dialogam com nosso córtex auditivo. Por ele passa a compreensão de tom, volume, ritmo, timbre, localização espacial. Outras áreas do cérebro também são ativadas quando uma música está tocando, relacionadas a emoção, movimento, memória. Nesse processo, há liberação de dopamina e experimentamos uma sensação de prazer. A dopamina é um dos hormônios mais conhecidos e importantes do sistema nervoso. Ela é responsável pela sensação de recompensa e é gerada por exemplo, na sequência de acontecimentos estressantes. Especula-se que a deficiência na produção de dopamina é uma das causas responsáveis pelo surgimento do Parkinson.

No caso da música clássica, uma pesquisa na Universidade de Helsinki na Finlândia colheu dados que evidenciam que ouvi-la pode ativar sinapses de aprendizado, memorização e liberação dessa dopamina. Isso pode significar no caso de algumas doenças degenerativas um complemento no tratamento para casos já diagnosticados ou até mesmo a prevenção para aqueles que ainda não desencadearam nenhuma. Na investigação, foi utilizado o Concerto para Violino nº3 em Sol maior, K.216, de Wolfgang Amadeus Mozart. Os resultados colhidos mostraram que o efeito da música clássica pode ser como uma terapia muito efetiva.

Um caso que também ficou recentemente famoso foi o da ex bailarina Marta Gonzalez, que já idosa e com Alzheimer, lembrou dos movimentos de ballet que fazia no Lago dos Cisnes, do compositor russo Tchaikovsky, ao colocar fones de ouvido onde tocava a canção. O vídeo emocionou centenas de pessoas na internet e se espalhou rapidamente.

Outro caso curioso que aconteceu no Brasil foi que uma equipe médica fez um experimento para tratar pessoas vítimas do câncer de mama com a Symphony No. 5, Mvt. I. de Beethoven e Atmosphères, de Gyorgy Ligeti. No experimento as células foram diminuindo e deixaram de viver. Os pesquisadores chegaram a conclusão que algumas sinfonias tem efeitos neurológicos e outras podem atingir o físico, visto que as sinfonias de Mozart também foram usadas nesse caso mas não apresentaram resultados.

Por onde começar a ouvir música clássica?

Ouvir música clássica no cotidiano não é algo muito comum e por isso, começar a tocar as sinfonias na playlist e gostar de primeira não é tão fácil assim. Primeiro por quê comumente não aprendemos como se ouve e depois por que como qualquer música, há aquelas que gostamos e aquelas que não nos agradam. Ninguém é obrigado a gostar de todas as peças, nem gostar de todos os instrumentos, por isso o primeiro passo rumo ao conhecimento de qualquer coisa que estejamos testando é ser honesto consigo. Feito isso podem ser seguidos alguns passos simples e iniciais:

  1. Ouça os patronos. Aqueles que já se ouve falar. Pesquise as principais sinfonias e as ouça. Veja como se sente, se gosta. Faça isso em ambientes calmos, sem muito barulho ou interferência e analise a experiência.
  2. Escolha obras curtas para facilitar a atenção e digestão. Comece com aquelas que não duram mais que cinco minutos e vá avançando à medida que elabora o que agrada.
  3. Escolha aquelas que se parecem com o gênero que gosta. Existem inúmeras composições. Cantadas e não cantadas, melancólicas ou alegres, sutis ou impositivas. Ficará mais fácil se conectar se o estilo dialoga com sua preferência natural.
  4. Registre em plataformas digitais de música. Hoje dispomos da tecnologia e seus algoritmos e podemos usar isso a nosso favor de muitas formas. No caso da música, e neste caso aqui, a música clássica, procure ouvir, curtir e salvar  suas primeiras sinfonias em plataformas digitais próprias para o consumo da música pois com base no que você ouviu e gostou, aparecerão muitas sugestões no mesmo sentido e assim você poderá conhecer coisas novas, descobrir por si mesmo e  experimentar de forma mais natural essa aproximação.
  5. Assista filmes relacionados à compositores. A medida que você se aproxima também da contextualização da vida e obra dos artistas e obras, vai compreendendo a importância e influência disso no mundo.

Você também pode procurar as peças dançadas, cantadas, tocadas por orquestras. As possibilidades são muitas. Com o tempo, terá suas preferências definidas.

O belo é essencialmente, o espiritual que se manifesta materialmente e se apresenta ao ser material.

Georg Wilhelm Friedrich Hegel

Além dos benefícios objetivos, a música clássica também é capaz de trabalhar a sensibilidade e a contemplação. Ela nos dá espaço para elaboração das nossas emoções e nos ajuda a acessar o que há de profundo e nem sempre visível em nós mesmos.

O ano que passa deixa marcas na história, na vida e lembrança em todos nós, mas nunca é tarde para resgatar aquilo que pode conferir ao nosso mundo particular algum tipo de elevação.

Link 01: Música clássica para iniciantes.

link 02: Reação de bailarina com Alzheimer ao ouvir ‘Lago dos Cisnes’

Link 03: Celulas tumorais ao ouvir 5 sinfonia de beethovem diminuiram ou morreram.

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