É sobre DESACELERAR

Foto: Nathan Dumlao - Unsplash

A primeira reação quando recebi o convite de Valná para ser uma das colunistas do Projeta, Mulher foi de susto e que susto! Depois veio a alegria e um orgulho danado de mim mesma por poder fazer parte desse time de mulher da porra e ainda poder colaborar de alguma forma com o fortalecimento da rede. Mas como aceitar mais uma missão quando tudo que mais busco é desacelerar?

Confesso que o convite veio num momento meio confuso da minha carreira, mas principalmente da minha vida pessoal. Há vários meses havia decidido desacelerar e não era porque o termo estava na moda, desacelerei por necessidade mesmo, meu corpo gritava por socorro, meus pensamentos não eram mais os mesmos, crises de ansiedade e noites em claro, tudo parecia desandar, mas a gota d’água foi meu elevadíssimo nível de estresse com quem não tinha nada haver com meus problemas: minha família.

Meus filhos sempre foram a parte mais importante da minha vida, escolhi empreender há 6 anos para ficar mais próxima a eles, queria trabalhar com algo que não me afastasse tanto da minha rotina pessoal: levar pra escola, fazer as refeições juntos, ajudar nas tarefas, me emocionar nas apresentações escolares ou simplesmente jogar conversa fora para mim sempre foram tarefas essenciais do meu maternar e sentia esses momentos escorrendo entre meus dedos, escolhi ser mãe para ser parceira dos meus filhos e não apenas vê-los acordar e dormir, mas enfim, isso é assunto para outro momento.

Voltando ao convite. Minha empresa passa por um momento delicado de reposicionamento, continuo procurando respeitar o meu projeto desacelerar e não sabia como conseguir conciliar mais uma atividade: ser mãe de três, dona de casa e empresária não são tarefas fáceis e acho que a maioria aqui sabe disso e receber mais uma missão, para mim era de extremo desafio, desafio esse que não tinha certeza se queria enfrentar. Mas respirei, pensei e pus a mão na massa, não podia perder a oportunidade de estar aqui fazendo uma das coisas que mais amo na vida: COMPARTILHAR. Com o tempo fui percebendo que tudo era questão de organização, comprei um planner, canetinhas novas, dei um tapa no visú do escritório, organizei rotina e cá estou escrevendo meu primeiro texto pro Projeta e ele é sobre DESACELERAR.

Atravessamos um período extremamente difícil e não falo apenas em fechamentos de empresas, pessoas morrendo e hospitais super lotados, falo em mentes adoecidas, em corpos exaustos de tentar seguir um ritmo que não lhes pertence, falo em cobranças externas, mas principalmente em cobranças internas, putz! Essas últimas são a tempestade no qual muitas de nós atravessamos sem nem saber que estamos atravessando. Lembro, há 1 ano, com a chegada da pandemia da COVID-19, do altíssimo número de cursos, lives, workshops e oficinas que surgiram, lembro também das mensagens exacerbadas de cobranças, a impressão que eu tinha era que se eu não fizesse todos aqueles cursos eu seria a pessoa mais inútil e mais irresponsável de todo o mundo, afinal estou presa em casa e seria um absurdo perder essa oportunidade de acessar tanto “conhecimento”, e gratuito, na maioria da vezes.

E qual foi minha reação? Inscrições infinitas em todos os cursos que apareceram na minha rede de contatos. Mas o que de fato aconteceu? Não consegui fazer nenhum deles, isso mesmo, NENHUM! Minha vida estava um caos, o setor de produção de eventos foi o primeiro a parar, a loja física precisava ser transformada numa loja virtual e ai de mim se não conseguisse dar conta, era inadmissível uma falha, afinal mulher forte e guerreira não devem falhar nunca, engoli esse discurso direitinho e acreditem me dei muito mal.

Foi nesse momento, após 6 meses de pandemia, que meu botão de alerta máximo foi disparado, eu só tinha duas alternativas: parar naquele momento ou prejudicar de uma vez por todas minha saúde e é claro que escolhi parar. E a fase mais linda dos meus 36 anos de idade começou a acontecer, meninas, se vocês não conhecem o termo DESACELERAR, procurem saber! Como falei anteriormente, é tudo uma questão de organização e prioridades, é passar a enxergar beleza nas coisas mais simples do dia a dia, num filho todo lambuzado de melancia por exemplo, é atravessar a Fernandes Lima observando a frescura daqueles ipês, vocês já contemplaram aqueles ipês? Desacelerar não é ser lenta, não é ser devagar, desacelerar é respeitar nosso ritmo, nossas dores, é olhar pra dentro de forma afetiva, é se transformar através de uma simples ação: parar para prosseguir.

No entanto, ressalto que o processo não é tão simples quanto parece, se é que parece. Desconstruir sempre foi mais difícil que construir, mudar hábitos continua sendo um complexo na minha vida, tive que buscar ajuda para conseguir ao menos aceitar que as coisas precisavam ser mudadas, iniciei terapia, busquei artigos sobre o assunto, fiz algumas imersões que me ajudaram muito a perceber os detalhes da minha existência. Hoje busco resolver tudo sem pressa, respeito o tempo das coisas, respeito meus ciclos, ouço meu corpo e cuido muito melhor não só de mim, mas da minha família, da minha empresa e do mundo ao meu redor. Se achei meu caminho? Não, não achei, mas quem disse que isso é prioridade na minha vida hoje? Descobri que a única prioridade que devemos ter diante de todo caos que vivemos é ser presente, repito: SER PRESENTE e isso é DESACELERAR!

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