Música e treino, doping musical

Foto: Element5 Digital - Unsplash

Quem treina ouvindo sua playlist preferida deve ter percebido o quão a música e o seu tipo interferem durante as mais diversas práticas esportivas. Falo por experiência própria, indo mais além com estudos comprovando que ouvir música durante a prática de atividade física libera substâncias químicas no cérebro que ajudam a reduzir a dor e a sensação de fadiga do exercício, aumentando dessa forma o desempenho. Após seis minutos de música, o esforço do exercício físico cai drasticamente, a música já começa a agir no cérebro de forma a desviar a atenção da dor, ativando também a área de prazer do cérebro, liberando dopamina, o composto associado à sensação de bem-estar. Os poderes dos estímulos musicais são indiscutíveis, com sua capacidade de alteração de ânimo e seu poder terapêutico revigorante, podendo provocar excitação ou relaxamento, influenciar diretamente no ritmo físico e psicológico, e ainda ser utilizado para a redução dos níveis de ansiedade, depressão e estresse.

Existem evidências científicas também de que as taxas de respiração e níveis de oxigênio de atletas podem ser alteradas de acordo com os estímulos musicais aos quais são submetidos. A criação de um ambiente sonoro propício à prática esportiva, adequando ritmo e as exigências do treinamento, podem auxiliar de maneira consistente proporcionando aos atletas uma imersão de leveza psicológica e um poder de abstração do esforço e da fadiga. Se você acompanha competições esportivas, deve ter percebido o “doping musical” que atletas profissionais antecedem nas suas provas, usando fones de ouvido, escutando músicas de sua preferência, na intenção de criar um ambiente voltado para o foco e a concentração. Cito dois atletas referências mundiais, fenômenos em seus esportes: Michael Phelps, que nas Olimpíadas de Pequim aqueceu à beira da piscina com fones de ouvido, gerando uma discussão de até que ponto o ritmo do rap americano teria influenciado no desempenho do nadador recordista de medalhas. O mesmo fez o velocista jamaicano Usain Bolt em busca de concentração e redução dos níveis de ansiedade e tensão pré provas. A importância é tanta que nas principais maratonas do mundo o uso de aparelhos para estes fins é vetado durante as provas, justamente pelo caráter de estímulo positivo da música, que aumenta a resistência psicológica dos corredores submetidos a um nível extremo de fadiga física e mental nas provas de longa duração.

Ainda, de acordo com Robin Dunbar, estudioso do assunto e professor de psicologia de Oxford: “Quando ouvimos música o cérebro libera analgésicos naturais que agem no corpo, como a morfina. E, se interagimos com a música, seja cantando ou dançando, a liberação destes compostos é ainda maior”. A revista especializada EFDeportes, de Buenos Aires, cita através de seus autores que a música sempre foi reconhecida como estimulante ao longo da atividade física, que contribui para a diminuição ou aumento da energia muscular. Que ela serve não apenas como distração, mas também para estabelecer ritmo para suas atividades. Sabe-se assim que as músicas dão cadência, amplitude, leveza, além de provocarem vibrações corporais, melhorando, entre outros aspectos, a capacidade de trabalho dos músculos. É como se os bons aspectos da atividade física, como a liberação de endorfinas, fossem ainda mais fortes na presença de música, algo que acontece pela capacidade incrível de percepção de nosso sistema nervoso central. Com tudo isso, a música serve de motivação para continuidade e ritmo dos exercícios, ou simplesmente para distrair o praticante, afastando qualquer sensação de tédio, ansiedade ou desânimo. Agora é só apertar o play e bons treinos!

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